Eliseu, aos 57 anos, vivia com a certeza absoluta de que a juventude estava apenas a uma corrida de distância. Ele comprava todos os cremes que prometiam rejuvenescer a pele e passava horas no ginásio, certo de que os seus abdominais de 20 anos estavam prontos para reaparecer.
Um dia, ao olhar-se no espelho, Eliseu viu o que ele jurava ser o início de um abdômen tanquinho. -"É hoje!", pensou ele, ao colocar a faixa de cabelo, um par de calções curtos e os ténis mais modernos que encontrou. Decidiu dar uma corrida no parque para mostrar ao mundo o seu "novo corpo".
Ao longo do percurso, viu uns adolescentes a fazerem flexões e gritou: -"Guardem um pouco de energia, rapazes! Quando chegarem à minha idade, vão querer estar em forma como eu!" Os putos olharam com um misto de pena e surpresa, mas João interpretou como inveja.
Naquela tarde, achou por bem subir todas as escadas de casa de uma só vez, como nos velhos tempos. No terceiro degrau, o joelho estalou. "Nada grave", pensou. No quinto, a respiração falhou. Ao chegar ao sétimo, já estava a rezar para que a juventude realmente o encontrasse logo, porque a ambulância podia não ser tão rápida.
Mais tarde, com gelo no joelho e um creme antienvelhecimento na cara, Eliseu sorriu. "É só ter calma porque isto é uma questão de tempo até eu voltar a ter aquela pele firme e o físico vigoroso. As miúdas até vão fazer fila e só vou parar quando conseguir fazer flexões com uma miúda sentada nas costas… mas o melhor é ser depois de uma boa sesta."
Por dentro, Eliseu sabia que a juventude, e o corpo em forma, não estavam no horizonte. Mas o bom humor e a fé inabalável de que amanhã seria o dia eram a verdadeira fonte de vitalidade. Afinal, quem precisa de juventude quando se tem a arte de rir de si mesmo? A sorrir Eliseu adormeceu a pensar, numa beldade sentada nas suas costas, enquanto ele fazia flexões atrás de flexões.