Estou numa nova fase da vida. Estou feliz, sinto-me mais capaz que nunca, digna, poderosa, independente e, como neste novo caminho não tem lugar para magoas, sombras, ou pesadelos, quero ir com a alma limpa, com a minha casa interior arrumada, por isso hoje decidi arrumar algumas gavetas dentro de mim que ainda tinham uns rolinhos de cotão, andei a arejar os armários, a limpar as divisões....que é o mesmo que dizer -fazer as pazes comigo e com o que andou por cá uns bons anos a moer, apesar de entretanto eu já ter vivido coisas fabulosas. Não sou de todo uma pessoa de guardar rancores, mas existem magoas que vão ficando lá bem guardadinhas e hoje percebi que elas já não me afetam já não tem aquela importância que já tiveram
Ponderei durante algum tempo se devia um pedido de desculpas a alguém que eu tivesse conhecido? Para o fazer se assim fosse importante. Lamento mas não... NENHUM porque sempre que errei nunca tive problema em o admitir! Aliás para ser sincera devo um pedido de desculpas. A mim.... só a mim!!!
Devo-me perdão por ter-me permitido usar o chip de que não iria conseguir sobreviver sem uma religião sem a proteção de Deus (era uma menininha ainda não entendia as coisas) Durante anos aceitei o inaceitável, ao permitir que pessoas erradas determinassem o meu valor, á medida que ia crescendo.
Por ter admitido que me ofendessem da forma mais cruel, quando as únicas pessoas em quem eu confiava me abandonaram sozinha no desconhecido, sem me poderem dirigir uma palavra, e acharam que isso era normal, tudo em nome de um Deus- "O castigo divino, por ter ideias próprias". Como se alguma vez Deus pudesse ser este pai tão frio e cruel.
Perdoo-me por ter colocado em duvida o meu merecimento em viver, quando em desespero quis ir embora.
Perdoo-me por me ter anulado durante anos, para caber no mundo de alguém que foi sempre tão vazio. Por saber que aquele não era o meu lugar e mesmo assim ter insistido em ficar, onde não pertencia.
Perdoo-me pelo medo que senti, por todas as lágrimas que chorei sozinha em desespero, por todas as vezes que me senti incapaz. Por ter permitido calada quando atentaram contra a minha dignidade e honestidade de forma tão violenta.
Perdoar-me hoje, está a ser um ato de amor, um compromisso comigo mesma de que nunca mais deixarei que a minha dignidade seja comprometida e que mais nenhum ser vai abusar da minha confiança porque ela tem os limites certos para eu saber que a falha está presente.
Faz algum tempo que a vida é minha e, só eu tenho mão e, poder sobre ela. Nunca viverei na sombra de ninguém. Só me faltava fazer as pazes com o passado e hoje sinto que estou em paz com tudo, já nada me mói.
Hoje sim, sei que sou totalmente livre de tudo o que já me fez tão mal.